Introdução
Observar é aplicar atentamente os sentidos a um objeto para dele adquirir um conhecimento claro e preciso. É um procedimento investigativo de suma importância na ciência, pois é por meio dele que se inicia todo estudo dos problemas. Portanto, a observação deve ser exata, completa, sucessiva e metódica. O bom observador é aquele que possui paciência e coragem para resistir às ânsias materiais de precipitação que todo ser humano tem em relação a conclusões rápidas. A imparcialidade também é um elemento necessário na observação dos fenômenos. Quando se observa, se deve não apenas ver, mas examinar, entender e auscultar os fatos. Na vida cotidiana, as pessoas observam as situações: a isso chamamos observação vulgar, espontânea ou assistemática. A observação é fonte constante de conhecimento para o homem a respeito de si, dos outros e do mundo que o cerca. (BARROS; LEHFELD, 2014).
O método observacional é um dos mais utilizados nas ciências sociais e apresenta alguns aspectos curiosos. Por um lado, pode ser considerado como o mais primitivo e, consequentemente, o mais impreciso. Mas, por outro, pode se considerar como um dos mais modernos, visto ser o que possibilita o mais elevado grau de precisão nas ciências sociais. Tanto é que em Psicologia os procedimentos de observação são frequentemente estudados como próximos aos procedimentos experimentais. Nestes casos, o método observacional difere do método experimental em apenas um aspecto: nos experimentos o cientista toma providências para que alguma coisa ocorra, a fim de observar o que se segue, ao passo que no estudo por observação apenas observa algo que acontece ou que já aconteceu. Há investigações em ciências sociais que se valem exclusivamente do método observacional. Outras, os utilizam em conjunto com outros métodos científicos. E pode-se afirmar com muita segurança que qualquer investigação em ciências sociais deve valer-se, em mais de um momento, de procedimentos observacionais. (GIL, 2019).
O que é Método Observacional?
Pode-se dizer que o método observacional é o início de toda pesquisa científica, pois serve de base para qualquer área das ciências. O método observacional fundamenta-se em procedimentos de natureza sensorial, como produto do processo em que se empenha o pesquisador no mundo dos fenômenos empíricos. É a busca deliberada, levada a efeito com cautela e predeterminação em contraste com as percepções do senso comum.
Os métodos observacionais são procedimentos empíricos de natureza sensorial. Não devem ser confundidos com a observação da rotina diária. (MARTINS, 2012).
Objetivo do Método Observacional
O objetivo da observação, ou método observacional, naturalmente pressupõe poder captar com precisão os aspectos essenciais e acidentais de um fenômeno do contexto empírico. Dentro das ciências sociais, a literatura costuma chamar esses aspectos de fatos; o produto de um ato observado e registrado denomina-se dado. (FACHIN, 2017).
Observação: Técnica ou Método?
A observação, uma das atividades mais comuns do dia a dia, não deve ser confundida com a observação utilizada como método. No primeiro caso, o significado radical da palavra é simplesmente ver. Neste caso, o objeto, embora visto, poderia não ser notado, sendo apenas um produto da mente do observador. A simples observação não seria capaz de reformular, testar ou encontrar explicação para falsas concepções. No segundo caso, o observador deve reunir certas condições, entre as quais, dispor de órgãos sensoriais em perfeito estado, ter bom preparo intelectual – aliado a sagacidade, curiosidade, persistência, perseverança, paciência – e elevado grau de humildade. Os fatos devem ser observados com paixão e energia incansáveis em busca da certeza de uma atitude autocorretiva e também de atitudes éticas. A observação deve ser sempre uma atividade capaz de conduzir a um aprendizado ativo com uma postura dirigida para determinado fato. Os elementos que circundam um fato observado são numerosos, portanto, o estudioso se vê rodeado de uma grande variedade de estímulos e percepções, muitas vezes tentadores e sem sentido; para as anotações, ele precisa saber quais são significativas para o seu estudo. (FACHIN, 2017).
A observação é um Método de coleta de dados que pressupõe a existência de um observador que utilize determinada técnica ou método de observação (como por exemplo, a observação casual, observação direta, observação simulada, observação sistemática, observação participante, etc.) dependendo do contexto metodológico no qual se insere, a observação normalmente requer certos cuidados a fim de que as informações coletadas possuam validade e fidedignidade, tais como buscar a objetividade e sempre que possível adotar um registro quantitativo. (APPOLINÁRIO, 2011).
A observação é uma das atividades mais difusas da vida diária, além de ser também, um instrumento básico da pesquisa científica. Torna-se uma técnica cientifica, quando ou uma vez que servea um objetivo formulado de pesquisa; é sistematicamente planejada, registrada e ligada a proposições mais gerais, além de ser submetida a verificações e controles de validade e precisão. (FACHIN, 2017).
Recursos do Método Observacional
Para definir os conceitos sobre os fenômenos observados (fatos) é de suma importância. Como o método observacional é considerado o primeiro passo de um estudo de qualquer natureza, algumas sugestões poderão servir como orientação ao pesquisador.
- Deve-se desenvolver a pesquisa com objetivos definidos;
- A pesquisa deve ser sistematicamente planejada;
- Os dados coletados devem sistematicamente registrados; e
- A pesquisa deve ser submetida a comprovações e controle de validade e confiabilidade.
- Criar condições favoráveis ao observador e ao observado; ou
- Observar o contexto social à distância, sem ser visto pelos próprios pesquisados.
- Pode-se também trabalhar com estatísticas (amostragem), com instrumentos de pesquisa social (formulários, questionários) que devem ser testados, ou ainda com observatórios astronômicos, que devem ser localizados em áreas distantes da urbanização e sem poluição atmosférica (circunstâncias que favoreçam o observador e não interfiram na sua observação). (FACHIN, 2017).
Concordância Observacional
Procedimento no qual os dados coletados de diversos observadores são cotejados com a finalidade de consolidar apenas aqueles dados que não são divergentes. O objetivo de tal procedimento é evitar, ou pelo menos diminuir, o efeito do Viés do observador. (APPOLINÁRIO, 2011).
Protocolo da Observação
O Protocolo da observação é uma forma usada na pesquisa qualitativa para coletar dados observacionais. Nessa forma, o pesquisador registra uma descrição dos eventos e processos observados, assim como anotações reflexivas sobre os códigos, temas e preocupações que surgem durante a observação. (CRESWELL; PLANO CLARK, 2013).
Viés do Observador
Interferência das crenças e valores do observador sobre o fenômeno observado. Em certo sentido, sempre ocorrerá o viés do observador, uma vez que nenhuma observação pode ser completamente neutra. Num sentido mais restrito, o viés do observador também pode ocorrer quando o pesquisador encontra-se tão comprometido com suas hipóteses que, sem perceber, esse comprometimento influencia suas percepções (WILKINSON, 2000). Em pesquisas sobre o comportamento humano, por exemplo, costuma-se utilizar vários observadores para então cotejar suas observações, com o intuito de consolidar apenas aqueles componentes observacionais do fenômeno que forem objeto de concordância entre observadores. (APPOLINÁRIO, 2011).
Vantagens do Método Observacional
A observação, sob alguns aspectos, é imprescindível em qualquer estágio da pesquisa, pois ela tanto pode filiar-se a outras técnicas de coleta de dados como pode ser empregada de forma independente ou exclusiva.
Como base de toda pesquisa cientifica e empregado nas diversas áreas das ciências humanas, o método observacional abrange desde as primeiras etapas do estudo até os mais avançados estágios, permitindo, ainda, aprimorar outros tipos de pesquisa.
Sabe-se que há certos teóricos que se opõem quanto ao emprego desse método, porém, quando bem conduzido, é de grande valia, revelando qualidades expressivas. (FACHIN, 2017).
Exemplos de Método Observacional
Sempre se deve ter em mente o que se observar. Por exemplo, o meio ambiente, o comportamento social, documentos, livros, processos ecológicos, eclipse, movimento das células etc. Tais observações devem ser registradas. A literatura mostra que Darwin matinha um caderno especial de notas para registro de observações contrárias à sua teoria, a fim de não desprezá-las ou subestimá-las.
Aplicando o método observacional, pode-se observar jovens carentes de uma sociedade, pode-se aludir que a marginalização do menor é fruto da situação econômica precária. Dessa observação é possível extrair um assunto para uma pesquisa social.
Se o interesse do pesquisador for a interação social de um grupo de ciganos, deve-se, por exemplo, observar a sequência exata dos movimentos físicos que cada um dos componentes do grupo executa, as mudanças deve-se, por exemplo, observar a sequência exata dos movimentos físicos que cada um dos componentes do grupo executa, as mudanças fisiológicas sofridas, as expressões faciais, as palavras pronunciadas, a entonação de voz e outras atitudes, ou seja, é necessário registrar toda combinação de processos que existe entre eles. Nunca se deve esquecer de conceituar com precisão os aspectos mais significativos da pesquisa, a fim de não se perder em dados pouco expressivos. Vale a pena dizer que o conteúdo de boa observação geralmente é determinado por meios dos conceitos. (FACHIN, 2017).
Formas de Classificação da Observação
A observação científica, ou seja, o método observacional se classifica segundo critérios de estruturação, participação do observador, número de observações e local de realização técnica (BARROS; LEHFELD, 2014):
Quanto a forma de estruturação:
a) Observação assistemática: também denominada observação não estruturada sem controle anteriormente elaborado e sem instrumental apropriado. Constitui-se muitas vezes, nas ciências humanas, na única das oportunidades para estudar determinados fenômenos.
b) Observação sistemática: também chamada de observação planejada ou controlada. Caracteriza-se por ser estruturada e realizada em condições controladas, tendo em vista objetivos e propósitos predefinidos. Utiliza normalmente um instrumento adequado para sua efetivação, além de indicar e delimitar a área a ser observada, requerendo um planejamento prévio para seu desenvolvimento. (BARROS; LEHFELD, 2014). Técnica de observação na qual o pesquisador define claramente e de antemão os componentes do fenômeno que irá observar (por exemplo, comportamentos agressivos apresentados por crianças em idade pré-escolar num experimento na área da Psicologia Educacional), assim como os métodos que serão utilizados na análise desses componentes. Opõe-se à observação casual. (APPOLINÁRIO, 2011).
Em qualquer processo de observação sistemática, devem-se considerar os seguintes aspectos ou elementos: por que observar? para que observar? como observar? o que observar? quem observar?
É necessário ainda salientar que, tanto na observação sistemática como na observação assistemática, o observador deve ter competência para observar e obter dados com imparcialidade, procurando controlar suas próprias opiniões e interpretações.
De acordo com Appolinário (2011), essas observações classificam-se em:
a) Observação causal: tipo de observação que envolve o monitoramento de fenômenos relevantes (por exemplo, o comportamento de consumidores num supermercado, numa pesquisa de marketing), porém sem especificar antecipadamente os detalhes do que se espera observar. Contrapõe- se à observação sistemática.
b) Observação naturalística: diz-se da observação na qual não ocorre nenhuma interferência do pesquisador no fenômeno. Opõe-se à observação participante. É um tipo de observação do comportamento que ocorre em ambientes naturais, ou seja, em campo (ambientes não controlados). Opõe-se à observação planejada.
c) Observação planejada: tipo de observação de comportamento que ocorre em ambientes artificiais, controlados (por exemplo, laboratório) Opõe-se à observação naturalística.
Quanto a participação do observador:
a) Observação não participante: tipo de observação em que o observador permanece de fora da realidade a estudar. A observação é feita sem que haja interferência ou envolvimento do observador na situação. O pesquisador tem o papel de espectador.
b) Observação participante: o pesquisador participa da situação estudada, sem que os demais elementos envolvidos percebam sua posição de participante. O observador se incorpora natural ou artificialmente ao grupo ou comunidade pesquisados – natural, quando já é elemento desse grupo investigado. A observação participante é as vezes criticada quando utilizada nas investigações científicas, por se considerar muito difícil assegurar a objetividade da observação. (BARROS; LEHFELD, 2014). Processo de observação no qual o pesquisador participa ativamente como membro do grupo que ele próprio está estudando, utilizando esta posição para obter informações acerca desse grupo. Na maioria das vezes, o grupo está ciente da condição do pesquisador, embora, em certas pesquisas, o pesquisador atue “encoberto”, ou seja, sem a ciência dos membros de que esteja colhendo informações e realizando uma pesquisa. Esta última forma de observação participante é eticamente questionável e necessita ser avaliada caso a caso. (APPOLINÁRIO, 2011).
Quanto ao número de observações:
a) Observação individual: quando a observação é realizada por um só pesquisador.
b) Observação em equipe: em determinados estudos, em que há o trabalho integrado de uma equipe de pesquisadores, e estes vão a campo para efetivar as observações.
Quanto ao local de realização técnica:
A observação pode ser feita perante os fenômenos encontrados na realidade social. Isto é, a observação feita no local de ocorrência do evento. Ou, então, as situações-problema, objeto de estudo, podem ser artificialmente criadas em laboratórios para que se observe a situação da variável experimental. No primeiro caso, temos a observação em campo e, no segundo, a observação em laboratório.
A técnica da observação, do ponto de vista dos estudos e trabalhos científicos, oferece a vantagem de possibilitar contato direto com o fenômeno, permitindo a coleta de dados sobre um conjunto de dados sobre um conjunto de atitudes comportamentais. É preciso, porém que o observador se preocupe em não criar impressões subjetivas (favoráveis e/ou desfavoráveis àquilo que observa). (BARROS; LEHFELD, 2014).
Estudos de Observação na Área da Saúde
Ao contrário do que ocorre nos estudos de intervenção, nos estudos de observação o pesquisador não intervém: ele participa como observador do que ocorre sem a sua interferência. São os estudos não experimentais, também conhecidos como estudos observacionais. (MARCOPITO; SANTOS, 2014).
Tipos de Estudos Observacionais na Área da Saúde
- Estudo observacional longitudinal ou de incidência;
- Estudo observacional transversal ou de prevalência.
- Estudo observacional Individual (observações podem ser feitas em indivíduos)
- Estudo observacional coletivo (estudo que recebe essa denominação peculiar de ecológicos).
- Estudo observacional de caso e controle.
- Estudo observacional de controle.
- Estudos observacional analítico (analítico quer dizer em que há comparação): os exemplos servem apenas para estudos individuais. (MARCOPITO; SANTOS, 2014).
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Referências Bibliográficas:
APPOLINÁRIO, Fabio. Dicionário de Metodologia Científica: um guia para a produção do conhecimento científico. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2011.
BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de Metodologia Científica. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2014.
CRESWELL, Jonh W; PLANO CLARCK, Vicki L. Métodos de Pesquisa: pesquisa de métodos mistos. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.
FACHIN, Odília. Fundamentos da Metodologia Científica: noções básicas em pesquisa científica. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
MARCOPITO, Luiz Francisco; SANTOS, Francisco Roberto Gonçalves. Um Guia para o Leitor de Artigos Científicos na Área da Saúde. 2. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2014.
MARTINS, Gilberto de Andrade. Manual para Elaboração de Monografias e Dissertações. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012.