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Metodologia Científica

Estudo Coorte

Estudo de Coorte

Os estudos de coorte são um tipo específico de desenho de estudo observacional que apresenta um nível de evidência maior que os outros observacionais, mas menor nível de evidência que os estudos experimentais. Compara a experiência de um grupo exposto e outro não exposto ao longo do tempo, para a identificação dos efeitos da exposição na incidência do evento de interesse. O estudo de coorte é muito utilizado nas pesquisas das ciências da saúde. Por exemplo, os estudos de coorte podem ser usados para aferir os riscos e benefícios do uso de alguma medicação pesquisada.

Que é estudo de Coorte?

Para Medeiros (2019), os estudos de coorte é um tipo de pesquisa que se realiza com um grupo de pessoas de características comuns, constituído por uma amostra representativa que é acompanhada, por determinado período, para observação e análise do que lhe acontece durante a pesquisa. Pode ser transversal (análise de um ponto específico da história do evento) ou longitudinal (ocupa-se do estudo de um fenômeno ao longo do tempo).

Já para Cajueiro (2015), os estudos de coorte se trata de um estudo observacional e longitudinal, que expõe certo grupo a fatores de riscos potenciais, para em seguida ser observado, acompanhado e comparado.

Partindo-se de uma tipologia mais abrangente, os estudos se dividem em experimentais e observacionais. A diferença entre estes estudos está na viabilidade do investigador ter ou não controle sobre a exposição de um fator (agente etiológico ou terapêutico).

Os estudos observacionais podem se subdividir em duas classes: descritivos e analíticos. A diferença entre eles, é que os estudos analíticos permite avaliar uma possível associação entre causa e efeito, diferente dos descritivos.

Os estudos observacionais analíticos geralmente são longitudinais (se estendem no tempo) e dentro deles podemos distinguir dois grupos: estudo de coorte e estudo de caso-controle.

Um estudo de coorte é um estudo observacional onde os participantes são selecionados segundo o status de exposição (expostos e não expostos), sendo observados para avaliar a incidência da doença em determinado período.

Uma coorte é um grupo de pessoas, originárias de uma população em estudo, peculiares de uma condição ou experiência comum, onde o resultado é desconhecido no início do estudo. (OLIVEIRA; VELLARDE; DE SÁ, 2015).

Para Marconi e Lakatos (2017) o termo coorte vem da designação utilizada na Roma antiga para descrever as unidades militares “como um grupo de guerreiros ou um grupo de pessoas com características em comum”. O estudo coorte constitui uma abordagem em que, com base em um grupo de pessoas com características comuns, elege-se uma amostra que será acompanhada por determinado período, a fim de observar e analisar o acontece com ela.

Esse tipo de pesquisa apresenta semelhanças com ensaio clínico, visto que “é constituído por uma amostra de pessoas expostas a determinado fator e outra amostra equivalente de não expostos”.

Objetivos do Estudo de Coorte

Muito utilizado na área da saúde, o estudo de coorte objetiva testar, observar e analisar grupos de pessoas por meio de comparação dos sinais apresentados a fim de determinar as causas do problema. (CAJUEIRO, 2015).

Metodologia do Estudo de Coorte

O primeiro passo para um estudo de coorte é determinar os “grupos de expostos” e de “não expostos”.  Uma vez que os pesquisadores tenham decidido as variáveis e os desfechos específicos para o estudo, eles devem usar os métodos mais apropriados a fim de medir essas características, dispondo para todos os participantes.

Nos estudos de coorte, os pesquisadores apenas observam o status de exposição, ou seja, não interferem ativamente.

Na medição dos dados do estudo de coorte é importante considerar a validade das medições; o tempo entre as medições e a disponibilidade de medidas uniformes para a população em estudo.

A validade de uma medição refere-se à proximidade dos dados medidos com os dados verdadeiros. Ela deve ser a mais próxima da realidade possível.

O tempo certo entre as medições da exposição e do desfecho depende do conhecimento antecipado sobre o desfecho. Em alguns estudos, os pesquisadores podem se interessar na associação entre a exposição recente e a doença.

Os estudos de coorte não são aconselhados para o estudo de exposições muito recentes ou muito antigas, uma vez que exposições antigas estão passíveis de alterações ao longo do tempo, ocultando a sua relação com o resultado de interesse e as exposições muito recentes tendem a confundir a relação pressuposta temporal entre a exposição e o desfecho. (OLIVEIRA; VELLARDE; DE SÁ, 2015).

Tipos de Estudos de Coorte

Os estudos de coorte podem ser prospectivos (contemporâneos) ou retrospectivos (históricos):

a) Estudo de coorte prospectivo: é elaborado no presente, com previsão de acompanhamento determinado, segundo o objeto de estudo. Sua principal vantagem é a de propiciar um planejamento rigoroso, o que lhe confere um rigor científico que aproxima do delineamento experimental. Parte-se da observação do presente, prevendo acompanhar o objeto até determinada data futura. (MARCONI; LAKATOS, 2017). Nos estudos de coorte prospectivos, a exposição pode já ter acontecido ou não, mas o desfecho ainda não ocorreu. Neste tipo de estudo de Coorte, as pessoas serão observadas prospectivamente por um período para a avaliação da ocorrência do desfecho pré-determinado. (BRASIL, 2014)

b) Estudo coorte retrospectivo: é elaborado com base em registros do passado com seguimento até o presente. Só se torna viável quando se dispõe de arquivos com protocolos completos e organizados. (GIL, 2019). Nos estudos de coorte retrospectivos, todas as informações sobre a exposição e o desfecho já aconteceram antes do estudo iniciar. Este tipo de estudo analisa no presente os desfechos relativos à uma exposição que aconteceu no passado. Os estudos de coorte retrospectivos comumente usam dados de registros populacionais de determinado país ou região e por isso são mais rápidos que os estudos de coorte prospectivos. (BRASIL, 2014).

c) Estudo de Coorte Retrospectivo-Prospectivo: são os estudos coorte combinados (CAJUEIRO, 2015).

Diferenças entre Estudos de Coorte prospectivos ou retrospectivos

A diferença entre os estudos retrospectivos e prospectivos é fundamentalmente descritiva, e normalmente não causa impacto no plano de análise ou nos resultados do estudo de coorte.

Etapas do Estudo de Coorte

Segundo Marconi e Lakatos (2017), as etapas que constituem um o estudo de coorte são:

  • Definição dos objetivos,
  • Seleção dos sujeitos do estudo,
  • Verificação da exposição ao fator objeto do estudo,
  • Seleção do grupo de comparação,
  • Acompanhamento do que aconteceu com a amostra estudada;
  • Análise do tipo de exposição que levou ao desfecho observado;
  • Análise das variáveis confundidoras do resultado;
  • Verificação dos riscos;
  • Redação do relatório.

Exemplo de Estudo de Coorte

Por exemplo, suponha uma pesquisa que tem como objetivo verificar a exposição passiva à fumaça de cigarro e a incidência de câncer de pulmão. Basicamente, a pesquisa começa pela seleção de uma amostra de indivíduos expostos ao fator de risco e de outra amostra equivalente de não expostos. A primeira amostra equivale ao grupo experimental e a segunda ao grupo de controle. A seguir, faz-se o seguimento de ambos os grupos e, após determinado período, verifica-se o quanto os indivíduos expostos estão mais sujeitos à doença do que os não expostos.

Outro exemplo, quando a profissão de linotipista era muito requisitada, foi realizado, um estudo de coorte para investigação do aparecimento de determinadas alterações no organismo humano. Os profissionais, por trabalharem próximo à caldeira de chumbo apresentavam variadas doenças, cujos sintomas mais comuns eram irritabilidade, cefaleia, tremor muscular, perda da memória e alucinações. A pesquisa veio a constatar, acompanhando os indivíduos pesquisados por determinado tempo, que a exposição ao chumbo era a causa dessas doenças.

Outra pesquisa de estudo coorte, que comumente se lê nos jornais e revistas ou se ouve nos noticiários televisivos, é a incidência de câncer em fumantes passivos. Também aqui é o acompanhamento por certo tempo dos indivíduos pesquisados que leva o pesquisador aos resultados da pesquisa. (MARCONI; LAKATOS, 2017).

Vantagens dos Estudos de Coorte

Uma grande vantagem dos estudos de coorte é a capacidade de analisar vários desfechos. Os pesquisadores das coortes em estudo são autorizados para estudar mais de um desfecho desde que os participantes estudados estejam livres de cada desfecho de interesse quando o estudo começou. (OLIVEIRA; VELLARDE; DE SÁ, 2015).

Outras vantagens da coorte:

  • Podem diferenciar as relações temporais entre a exposição e o desfecho pelo fato de a exposição enteceder o desfecho;
  • Podem ser utilizados para análise de múltiplos desfechos;
  • Possibitam o cálculo das medidas de incidência nas coortes de expostos e não expostos;
  • O status do desfecho não interfere a medida do status de exposição ou seleção de indivíduos;
  • São menos propensos a viéses de seleção do que os estudos de caso-controle;
  • Alguns estudos permitem ainda que várias exposições possam ser avaliadas.

Desvantagens dos Estudos de Coorte

Uma das desvantagens do estudo de coorte é o viés de informação e a inabilidade para controlar variáveis de confusão (falta de informação) formados nos tipos retrospectivos.

A despeito do amplo conhecimento pela comunidade científica, os estudos de coorte apresentam diversas limitações. Uma das mais importantes refere-se à não utilização do critério de aleatoriedade na formação dos grupos de participantes. Outra limitação refere-se à exigência de uma amostra muito grande, o que faz com que a pesquisa fique onerosa. (GIL,2019).

Outras desvantagens dos estudos de coorte:

  • Trazem todas as debilidades do desenho observacional se comparados com estudos experimentais – ensaios clínicos randomizados;
  • Probabilidade de ineficiência no estudo de doenças raras ou com extenso períodos de latência;
  • Nos estudos etiológicos, frequentemente são caros e difíceis de operacionalizar;
  • Desistência ou óbtido dos participantes no decorrer do seguimento comprometendo a validade dos resultados;
  • Estão propensos a fatores de confusão devido sua característica observacional. Como resultado, indivíduos podem variar em função de outras características, ocorre o fator de confusão ou confundimento, podendo influenciar nos esultados do estudo;
  • Incapacidade para explorar doenças com desfecho raro ou quando a doença tem um longo período de latência.

Riscos dos Estudos de Coorte

Falando de uma forma mais genérica, o Risco se refere à probabilidade de algum evento indesejado. Neste sentido, nos estudos de coorte, a terminologia de Risco é utilizada para apresentar a probabilidade de que pessoas expostas a certos fatores (fatores de risco) adquiram ou desenvolvam subsequentemente uma doença ou situação de interesse. Os estudos de coorte e caso−controle são os delineamentos mais utilizados para avaliação de fatores de risco. Prognóstico é a previsão futura de uma doença, após instalada no indivíduo. Estudos para avaliação de prognóstico são semelhantes aos estudos de coorte para avaliação de fatores de risco. (BRASIL, 2014).

Tipos de Riscos do Estudo Coorte

Após a determinação da incidência da doença em cada coorte, é possível compará-las. Muitos tipos de comparações são possíveis, as mais comuns são o risco relativo e o risco atribuível.

a) Risco relativo é definido como a incidência (proporção ou taxa) em uma coorte dividida pela incidência na coorte de referência.

b) Risco Atribuível (também chamado de “diferença de risco” ou “excesso de risco”): é definido como a incidência (proporção ou taxa) em uma coorte diminuída a incidência do outro grupo. (OLIVEIRA; VELLARDE; DE SÁ, 2015).


Referências Bibliográficas:

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Diretrizes Metodológicas: elaboração de revisão sistemática e metanálise de estudos observacionais comparativos sobre fatores de risco e prognóstico. Brasília: Editora MS, 2014. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_metodologicas_fatores_risco_prognostico.pdf> Acesso em: 03 mai. 2019.

CAJUEIRO, Roberta Liana Pimentel. Manual para elaboração de trabalhos acadêmicos: guia prático do estudante. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2019.

OLIVEIRA, Marco Aurelio. VELLARDE, Guillermo Coca. DE SÁ, Renato Augusto Moreira. Entendendo a pesquisa clínica III: estudos de coorte. Rev. Femina. 2015. Vol. 43. nº 3. Disponível em:<http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2015/v43n3/a5116.pdf> Acesso em: 03 mai. 2019.

MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: prática de fichamentos, resumos, resenhas. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2019. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Cient

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