O método fenomenológico não é dedutivo nem indutivo. Consiste em mostrar o que é dado e em esclarecer esse dado. Não explica mediante leis nem deduz a partir de princípios, mas considera imediatamente o que está presente à consciência: o objeto. Consequentemente, tem uma tendência orientada totalmente para o objeto. Ou seja, o método fenomenológico limita-se aos aspectos essenciais e intrínsecos do fenômeno, sem lançar mão de deduções ou empirismos, buscando compreendê-lo por meio da intuição, visando apenas o dado, o fenômeno, não importando sua natureza real ou fictícia. (PRODANOV; FREITAS, 2013).
Origem e História do Método Fenomenológico
O conceito fenomenologia vem do grego phainomenon, que significa fenômeno, algo que se manifesta ao sujeito e logos, estudo, tratado. Portanto a fenomenologia procura desvendar a essência do fenômeno. A fenomenologia é reconhecida como uma das mais importantes manifestações filosóficas dos séculos XIX e XX. Formulada por Edmund Husserl, filósofo alemão, conhecido como fundador da fenomenologia, desperta grande interesse por parte de profissionais e pesquisadores dos mais diferentes campos do conhecimento. Em termos gerais, é uma crítica ao empirismo em sua expressão positivista do século XIX e procura resolver a contradição entre corpo-mente e sujeito-objeto que se arrasta desde Descartes. (RICHARDSON, 2017).
Fenômeno, na origem, significa o que que é visto, o que surge aos nossos olhos, o que aparece aos sentidos e, portanto, constitui a sua essência. (MEDEIROS, 2019).
O método fenomenológico, tal como foi apresentado por Edmund Husserl (1859-1938), propõe-se a estabelecer uma base segura, liberta de preposições, para todas as ciências. Para Husserl, as certezas positivas que permeiam o discurso das ciências empíricas são “ingênuas”. A suprema fonte de todas as afirmações racionais é a “consciência doadora originária”. Daí a primeira e fundamental regra do método fenomenológico: “avançar para as próprias coisas”. Por coisa entende-se simplesmente o dado, o fenômeno, aquilo que é visto diante da consciência. A fenomenologia não se preocupa com algo desconhecido que se encontra atrás do fenômeno; só visa ao dado, sem querer decidir se este dado é uma realidade ou uma aparência. (GIL, 2019b).
O que é Método Fenomenológico?
Método Fenomenológico é um método de pesquisa, ou seja, método científico que se define como estudo de um fenômeno tal qual ele se apresenta à percepção, para descobrir sua significação. É um método que se ocupa de descrever um fenômeno tal qual é percebido pelo pesquisador, procurando ir ao encontro das coisas em si mesmas. Os pesquisadores em fenomenologia entendem que por meio da observação, essa abordagem constitui uma tentativa de explicação neutra de um fenômeno como ele se apresenta à consciência que a pessoa tem do mundo. A utilização da fenomenologia como método, era para Husserl uma garantia contra a certeza ingênua dos positivistas, da ciência de base empírica. Daí os pesquisadores fenomenológicos não se apoiarem os em teorias sociológicas, psicológicas nem em explicações de causas do aparecimento do fenômeno. Segundo essa postura, a realidade é múltipla e depende da interpretação que lhe é dada. Trata-se, pois, de um método altamente subjetivo. Husserl propunha então a redução fenomenológica, que se constitui pela suspensão de crenças e teorias para focalizar exclusivamente naquilo que o fenômeno significa para a pessoa. O postulado implicava que, livre de preconceitos, reduziam-se a possibilidade de adulterar a realidade. (MEDEIROS, 2019).
Objetivo do Método Fenomenológico
O objetivo é entender a relação entre fenômeno e essência. Ou seja, busca o entendimento da essência do fenômeno. (MARTINS; THEÓPHILO, 2018). O método fenomenológico, portanto, objetiva compreender os que se põe atrás da realidade, sem se preocupar se se trata da realidade propriamente dita ou de uma aparência do real. E faz isso sem a participação de juízos apriorísticos. Entendem, porém, os que a esse método se opõem que dificilmente um pesquisador, ainda que precavido de juízos apriorísticos, observa a realidade destituído de teoria ou conhecimentos que orientam sua maneira de interpretar o que vê. (MEDEIROS, 2019).
Características do Método Fenomenológico
Nas pesquisas realizadas sob o enfoque fenomenológico, o pesquisador preocupa-se em mostrar e esclarecer o que é dado. Não procura explicar mediante leis, nem deduzir com base em princípios, mas considera imediatamente o que está presente na consciência dos sujeitos. O que interessa ao pesquisador não é o mundo que existe, nem o conceito subjetivo, nem uma atividade do sujeito, mas sim o modo como o conhecimento do mundo se dá, tem lugar, se realiza para cada pessoa. O objeto de conhecimento para fenomenologia não é o sujeito nem o mundo, mas o mundo enquanto é vivido pelo sujeito. O intento da fenomenologia é, pois, o de proporcionar uma descrição direta da experiência tal como ela é, sem nenhuma consideração acerca de sua gênese psicológica e das explicações causais que os especialistas podem dar. Para tanto, é necessário orientar-se ao que é dado diretamente à consciência, com a exclusão de tudo aquilo que pode modificá-la, como o subjetivo do pesquisador e o objetivo que não é dado realmente no fenômeno considerado.
As técnicas de pesquisa mais utilizadas são, portanto, de natureza qualitativa e não estruturada. Do ponto de vista fenomenológico, a realidade não é tida como algo objetivo e passível de ser explicado como um conhecimento que privilegia explicações em termos de causa e efeito. A realidade é entendida como o que emerge da intencionalidade da consciência voltada para o fenômeno. A realidade é o compreendido, o interpretado, o comunicado. Não existe, portanto, para a fenomenologia, uma única realidade, mas tantas quantas forem suas compreensões, interpretações e comunicações.
Em virtude da inexistência de planejamento rígido e da não utilização de técnicas estruturadas para coleta de dados, que caracterizam as pesquisas fenomenológicas, não há como deixar de admitir o peso da subjetividade na interpretação dos dados. Mas para Husserl, o abandono de pressupostos e julgamentos é condição fundamental para se fazer fenomenologia. Por essa razão propôs a adoção da redução fenomenológica, que requer a suspensão das atitudes, crenças e teorias – a colocação “entre parênteses” do conhecimento das coisas do mundo exterior – a fim de concentrar-se exclusivamente na experiência em foco, no que essa realidade significa para a pessoa. Isto não significa que essas coisas deixam de existir, mas são desconsideradas temporariamente. Quando, pois o pesquisador está consciente de seus preconceitos, ele minimiza as possibilidades de deformação da realidade que se dispõe a pesquisar. (GIL, 2019).
A fenomenologia fundamenta-se na busca do conhecimento a partir da descrição das experiências como estas são vividas, não havendo separação entre sujeito e objeto. (MARTINS; THEÓPHILO, 2018).
Redução do Método Fenomenológico
O método e a pesquisa fenomenológica se orientam pela epoché: redução psicológica e redução fenomenológica ou transcendental.
a) Redução Psicológica:
Pela redução psicológica, o pesquisador recusa aceitar a evidência empírica como fundamento de um conhecimento verdadeiro. Coloca-se, portanto, entre parênteses (=epochê) todo juízo a respeito das coisas. Enfim, trata-se de uma redução subjetiva, em que se põe de lado o conhecimento anterior com que nos relacionamos com a realidade, para captar as coisas como elas são em si mesmas. Deixamos, pois, provisoriamente, de lado as teorias e os preconceitos de que nos valemos para conferir sentido às coisas; rejeitamos tudo o que possa prejudicar o conhecimento do fenômeno, o que caracteriza uma atitude de suspensão do juízo. Fase, portanto, de contemplação desinteressada. Opõe-se ao dogmatismo, em que se aceita uma proposição. Nesse sentido, Husserl valorizava a intuição da essência.
b) Redução fenomenológica ou transcendental
Na redução fenomenológica e transcendental, reflete-se sobre o refletido; pensa-se o pensado, ou seja, os atos de consciência também são objeto de reflexão. (MEDEIROS, 2019).
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Referências Bibliográficas:
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
MARTINS, Gilberto de Andrade; THEÓPHILO, Carlos Renato. Metodologia da Investigação Científica para Ciências Sociais Aplicadas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: prática de fichamentos, resumos, resenhas. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
PRODANOV, Cleber Cristiano.; FREITAS, Ernani Cesar de Freitas. Metodologia do Trabalho Científico [recurso eletrônico]: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.
RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 4. ed. São Paulo: Atlas 2017.