Realmente, sabemos o que é ciência? Etimologicamente, o termo ciência deriva do verbo em latim Scire, que significa aprender, conhecer. Essa definição etimológica, contudo, é insuficiente para distinguir ciência de outras atividades também relacionadas com o aprendizado e o conhecimento (PRODANOV; FREITAS, 2013).
O ser humano, perante a necessidade de entender e dominar o meio, ou o mundo, em seu proveito e da sociedade da qual é integrante, acumula conhecimentos racionais sobre seu meio e sobre as ações capazes de modificá-lo. Essa série constante de acrescentamentos de conhecimentos racionais e mensuráveis da realidade denominamos ciência. Em decorrência da frequente busca da verdade cientifica realizada pelo homem, o avanço da ciência se tornou presente, expandindo, aprofundando, esmiuçando e, algumas vezes, se apossando de conhecimentos anteriores. Desta forma se pode dizer que a ciência é exata por um tempo delimitado, ou seja, até que ocorram novas transformações, tornando-a assim, falível (FACHIN, 2011).
Um primeiro conceito de ciência diz que ela se identifica com um conjunto de procedimentos que permite a distinção entre aparência e essência dos fenômenos perceptíveis pela inteligência humana. As peculiaridades de seu método diferenciam a ciência das muitas formas de conhecimento humano. E uma de suas particularidades é aceitar que nada é eternamente verdadeiro. O dogma não encontra lugar na ciência. A ciência divide-se inicialmente em lógicas (se subdividem em lógica e matemática) e empíricas (se subdividem em naturais e ciências sociais). A comunidade cientifica de um ramo possui características comuns quanto aos métodos que utiliza para investigar a realidade. (MEDEIROS, 2019).
“A ciência se faz quando o pesquisador aborda os fenômenos aplicando recursos técnicos, seguindo um método e apoiando-se em fundamentos epistemológicos”.
A ciência usa um método particular, o método científico, elemento essencial do processo do conhecimento efetuado pela ciência para distingui-la, não apenas do senso comum, mas também das outras modalidades de expressão da subjetividade humana, como a filosofia, a arte, a religião. Trata-se de uma somatória de procedimentos lógicos e de técnicas operacionais que possibilitam o acesso às relações causais constantes entre os fenômenos (SEVERINO, 2016, p. 106).
Ao analisar o desenvolvimento histórico da ciência, se verifica que ela concerne em uma busca, uma investigação permanente, e incessante de soluções e explicações para os problemas propostos (FACHIN, 2011).
Outros Conceitos de Ciência
Entende-se por ciência uma sistematização de conhecimentos, um agrupamento de preposições logicamente relacionadas sobre o comportamento de determinados fenômenos que se pretende estudar (MARCONI; LAKATOS, 2011)
Ainda segundo Marconi e Lakatos (2017), os conceitos mais comuns de ciência, mas, para as autoras, incompletos, são os seguintes:
- Acumulação de conhecimento sistemáticos.
- Atividade que se propõe a demonstrar a verdade dos fatos experimentais e suas aplicações práticas.
- Forma de conhecimento que se caracteriza pelo conhecimento racional, sistemático, exato, verificável e, por conseguinte, falível.
- Conhecimento certo do real pelas suas causas.
- Conhecimento sistemático dos fenômenos da natureza e das leis que o regem, obtido pela investigação, pelo raciocínio e pela experimentação intensiva.
- Conjunto de enunciados lógica e dedutivamente justificados por outros enunciados.
- Conjunto orgânico de conclusões certas e gerais, metodicamente demonstradas e relacionadas com o objeto determinado.
- Corpo de conhecimentos que consiste em percepções, e experiências, fatos certos e seguros.
- Estudo de problemas solúveis, mediante método científico.
- Forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo.
Para Trujillo (1974, p.8) apud Lakatos (2011, p. 22):
“… a ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido a verificação”.
Enquanto Fachin (2017), define a ciência como “progresso permanente de acúmulo de conhecimentos sobre algo e de ações racionais, sistemáticas, exatas e verificáveis, capazes de transformá-las”.
Natureza da Ciência
A palavra ciência pode ser entendida em dois conceitos:
- Latu sensu: contém o significado de “conhecimento”;
- Stricto sensu: refere-se a um conhecimento que permite apreender e/ou registrar fatos, os demostrando por suas causas constitutivas ou determinantes.
Quando se fala na natureza da ciência, podem ser apontadas duas dimensões: a compreensiva (contextual ou de conteúdo) e a metodológica (operacional), contendo aspectos lógicos e técnicos. Pode-se definir o aspecto lógico da ciência como o método de raciocínio e de inferência sobre fenômenos já conhecidos ou a serem pesquisados; em outras palavras, pode-se considerar que “o aspecto lógico constitui o método para construção de proposições e enunciados”, objetivando, dessa maneira, uma descrição, interpretação, explicação e verificação mais precisas (MARCONI; LAKATOS, 2011).
Componentes da Ciência
- Objetivo ou finalidade: preocupação em distinguir a característica comum ou as leis gerais que regem os eventos;
- Função: aperfeiçoamento, através do crescente acervo de conhecimento, da relação do homem com o seu mundo;
- Objetos: Pode ser material: aquilo que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar, de modo geral, ou formal, o enfoque especial, entre as diversas ciências que possuem o mesmo objeto material.
Características da Ciência
- Objetividade– descreve a realidade independentemente dos caprichos do pesquisador;
- Racionalidade– obtém seus resultados através da razão e não impressões do pesquisador;
- Sistematicidade– preocupa-se em construir sistemas de ideias organizadas racionalmente e em incluir os conhecimentos parciais em totalidades cada vez mais amplas;
- Generalidade– busca elaborar leis ou normas gerais, que explicam todos os fenômenos de certo tipo;
- Verificabilidade– possibilita sempre demonstrar a veracidade das informações;
- Falibilidade – Ao contrário de outros sistemas de conhecimento elaborados pelo homem, reconhece sua própria capacidade de errar (ASSIS, 2009).
Neutralidade da Ciência
A neutralidade cientifica pressupõe que o autor evite ao máximo a subjetividade, ou seja, ele deve manter-se distante de suas emoções durante a construção do conhecimento e precisa evitar o “achismo” para não interferir nos resultados das pesquisas. “É preciso que o pesquisador tenha consciência da possibilidade de sua formação moral, religiosa, cultural e de sua crença de valores para resultados da pesquisa não sejam influenciados”.
Produzir ciência é um ato possível a todos que buscam explicações para melhor entendimento da realidade empírica; não é privilégio somente de sábios e iluminados. Etimologicamente ciência quer dizer quer dizer racionalidade, objetividade, sistematização de ideias e possibilidade de verificação e demonstração através de informações obtidas no processo de estudo e/ou pesquisa, independentemente do ponto de vista do pesquisador. (OLIVEIRA, 2018).
Funções da Ciência
As funções da ciência são basicamente descrever, explicar e prever os dados que limitam e/ou integram a realidade em estudo, tornando o mundo inteligível mediante interpretações ordenadas do mesmo. A ciência nessa tríplice função vale-se de um instrumento, o método científico, um de seus instrumentos determinantes e importantes para a realização de seus objetivos. (LEÃO, 2017).
Objetivos da Ciência
De acordo com Dencker e Viá (2001) os objetivos sejam básicos ou específicos da ciência são:
- Buscar um conhecimento coerente e empiricamente demonstrável, isto é, produzir um conjunto de afirmações sobre um objetivo que sejam mutuamente compatíveis;
- É a correspondência entre a afirmação e os fatos. Construir a teoria através das relações entre fatos e afirmações;
- Integrar os paradigmas. Obter compatibilidade com o conhecimento existente;
- Sistematizar o conhecimento científico;
- Gerar novos conhecimentos.
Classificação e Divisão da Ciência
A complexidade e diversidade do universo, assim como dos fenômenos que nele se manifestam, aliadas à necessidade do homem entendimento dos mesmos, levaram ao surgimento de diversos ramos de estudo e ciências específicas as quais precisam de uma classificação, seja de acordo com sua ordem de complexidade, ou de acordo com seu conteúdo: objeto ou temas, diferença de enunciados e metodologia empregada (MARCONI; LAKATOS, 2011).
Classificação de Comte
Uma das primeiras classificações foi estabelecida por Augusto Comte. Para ele, as ciências, se apresentam de acordo com a ordem crescente de complexidade: Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia e Moral. Outros autores utilizaram também o critério da complexidade crescente, originando classificações com pequenas diferenças em relação à Comte.
Variação da classificação de Comte
Alguns autores classificam as ciências segundo um critério misto, utilizando a complexidade crescente, de acordo com o conceito de Comte, aliada ao conteúdo (NÉRICI, 1978, p.113 apud Lakatos, 2011, p.25).
Classificação de Carnap
Quanto à classificação em relação ao conteúdo, podemos citar, inicialmente, a de Rudolf Carnap. Para esse autor, as ciências dividem-se em:
- Formais: contêm apenas enunciados analíticos, isto é, cuja verdade depende unicamente do significado de seus termos ou de sua estrutura lógica.
- Factuais: além dos enunciados analíticos, contêm sobretudo os sintéticos, aqueles cuja verdade depende não só do significado de seus termos, mas igualmente, dos fatos a que se referem.
Classificação de Bunge
Mario Bunge, partindo da mesma divisão em relação às ciências, apresenta a seguinte classificação (1976, p. 41 apud Lakatos, 2011, p.26):
Classificação de Wundt
Por sua vez, Wudt indica a seguinte classificação:
Classificação adotada
Das classificações vistas, percebe-se que não há um consenso entre os autores, nem sequer quando se trata da diferença entre ciências e ramos de estudo: o que para alguns é ciência, para outros ainda permanece como ramo de estudo, e vice-versa.
Baseando-se em Bunge, apresentamos a seguinte classificação das ciências:
Ciências Formais e Factuais
A primeira e mais fundamental diferença existente entre as ciências se refere às ciências formais (estudo das ideias) e as ciências factuais (estudo dos fatos). Entre as primeiras, encontram-se a lógica e a matemática, que não tendo relação com algo encontrado na realidade, não pode valer-se dos contatos com essa realidade para convalidar fórmulas. Por outro lado, a física e a sociologia, sendo ciências factuais, referem-se a fatos que supostamente ocorrem no mundo e, em consequência, recorrem à observação e a experimentação para comprovar (ou refutar) suas fórmulas (hipóteses).
Referências Bibliográficas:
ASSIS, Maria Cristina de. Metodologia do trabalho científico. In: Evangelina Maria B. de Faria; Ana Cristina S. Aldrigue. (Org.). Linguagens: usos e reflexões. 3. Ed. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 2009. Disponível em: <http://biblioteca.virtual.ufpb.br/files/metodologia_do_trabalho_cientifico_1360073105.pdf> Acesso em: 13 mar. 2018.
DENCKER, Ada de Freitas Maneti; VIÁ, Sarah Chucid da. Pesquisa empírica em ciências humanas (com ênfase em comunicação). São Paulo: Futura, 2001.
FANCHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
LEÃO, Lourdes Meireles. Metodologia do estudo e pesquisa: facilitando a vida dos estudantes, professores e pesquisadores. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017
MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: prática de fichamentos, resumos, resenhas. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do Trabalho Científico [recurso eletrônico]: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.