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Pesquisa Fenomenológica

Pesquisa fenomenológica

A pesquisa fenomenológica se fundamenta na fenomenologia ou método fenomenológico e aplica-se a problemas que se referem ao dia a dia das pessoas.

A fenomenologia não é somente uma descrição, mas também um processo interpretativo no qual o pesquisador faz uma interpretação, isto é, o pesquisador faz a “mediação” entre diferentes significados das experiências vividas. A fenomenologia é popular nas ciências sociais e da saúde, especialmente na sociologia, na psicologia, na enfermagem e nas ciências da saúde e na educação.

Que é Pesquisa Fenomenológica?

A pesquisa fenomenológica é um tipo de pesquisa que busca descrever e interpretar os fenômenos que se apresentam à percepção. Seus fundamentos são encontrados na Fenomenologia. A pesquisa fenomenológica busca a interpretação do mundo através da consciência do sujeito formulada com base em suas experiências. Seu objeto é, portanto, o próprio fenômeno tal como se apresenta à consciência, ou seja, o que aparece, e não o que se pensa ou se afirma a seu respeito. Tudo, pois, tem que ser estudado tal como é para o sujeito, sem interferência de qualquer regra de observação. (GIL, 2019a).

Outros Conceitos de Pesquisa Fenomenológica

A pesquisa fenomenológica é uma modalidade que se fundamenta na fenomenologia, nascida na segunda metade do século XX, a partir das análises de Franz Brentano (1838-1917) sobre a intencionalidade da consciência humana, trata de descrever, compreender e interpretar fenômenos que se apresentam à percepção, pois, segundo este pensador, a psique se dirige a algo, necessariamente. (DIEZ, HORN, 2013).

A pesquisa fenomenológica é aquela que descreve o significado comum para vários indivíduos das suas experiências vividas de um conceito ou um fenômeno. (CRESWELL, 2014).

A pesquisa fenomenológica é uma pesquisa que se apoia na filosofia de Husserl, Heidegger e Merleau-Ponty. Ela se ocupa de interpretar o mundo com base na consciência do sujeito. (MARCONI; LAKATOS, 2017).

A pesquisa fenomenológica é uma modalidade de pesquisa que utiliza o método fenomenológico. Trata-se de uma pesquisa qualitativa por excelência, já que seu propósito é interpretar o mundo através da consciência dos sujeitos formulada com base em experiências. (GIL, 2019b).

Metodologia da Pesquisa Fenomenológica

As pesquisas fenomenológicas são similares as outras que formam o núcleo da pesquisa qualitativa e, talvez, sua diferença esteja no fato de que a ou as experiências do participante ou dos participantes são o centro da pesquisa, ou seja, o foco são as experiências individuais subjetivas dos participantes. Na pesquisa fenomenológica, o pesquisador contextualiza as experiências em relação a sua temporalidade (quando aconteceram), espaço (onde ocorreram), corporeidade (as pessoas físicas que as viveram) e o contexto das relações (os laços produzidos durante a experiência). (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013).

O delineamento da pesquisa fenomenológica inclui: formulação do problema; escolha das técnicas de coleta de dados; seleção dos participantes; coleta de dados; análise dos dados; e redação do relatório de pesquisa. (GIL, 2016).

Como a pesquisa fenomenológica se ocupa de resgatar os significados atribuídos pelos sujeitos aos fenômenos sob investigação, a fonte de dados repousa no relato dos próprios sujeitos. Esse tipo de pesquisa se baseia ainda na análise de discursos e temas específicos e de seus significados. Como tais estudos se apropriam do conhecimento pela compreensão-interpretação-nova compreensão, a abordagem fenomenológica revela-se inacabada, não se constituindo em busca de uma verdade definitiva. (MARCONI; LAKATOS, 2017).

Nessa modalidade de pesquisa, a atenção do pesquisador se volta para a relação sujeito-objeto, o que implica a extinção da separação entre sujeito e objeto. Assim, a pesquisa fenomenológica se torna radicalmente diferente dos delineamentos de pesquisas fundamentados no pensamento positivista, como os experimentos da pesquisa experimental e os levantamentos da pesquisa de levantamento. Por essa razão é que a Fenomenologia se constitui muito mais como uma postura, um modo de compreender o mundo, do que como uma teoria, um modo de explicá-lo.

Para muitos pesquisadores, torna-se difícil a aceitação dos princípios que orientam a pesquisa fenomenológica, já que implica mudar radicalmente a maneira de conceber a realidade. Nessa categoria de pesquisa não se busca, como preconizava Émile Durkheim, tratar os fatos sociais como coisas, ou seja, compreendê-los mediante a utilização de procedimentos semelhantes ao das ciências naturais. E por seu próprio modo de ser, não existe um caminho sistemático de aprendizagem da postura fenomenológica, a não ser pela exaustiva leitura das obras de seus diversos autores. (GIL, 2019a).

As técnicas mais adequadas para coleta de dados na pesquisa fenomenológica são as que possibilitam a livre expressão dos participantes, o que é essencial tanto para a descrição quanto para a interpretação da experiência vivida. A mais comum dessas técnicas é a entrevista focalizada, que, ao mesmo tempo em que permite a livre expressão do entrevistado, garante a manutenção de seu foco pelo entrevistador.

A seleção dos participantes de uma pesquisa fenomenológica não requer a utilização do processo de amostragem probabilística nem mesmo um número elevado de informantes. Isso porque seu propósito não é o de garantir que seus resultados sejam representativos das características de determinada população. O que interessa é dispor de participantes que sejam capazes de descrever de maneira acurada a sua experiência vivida. (GIL, 2019b).

Objetivos da Pesquisa Fenomenológica

Para Sampiere, Collado e Lucio (2013) os objetivos da pesquisa fenomenológica são: permitir explorar situações, valores e práticas apoiadas na visão de mundo dos próprios sujeitos; no lugar de verificar o saber já estabelecido, permitir descobrir novos conhecimentos; como trabalha com amostras intencionais e experiências singulares, não pretender alcançar resultados generalizáveis estatisticamente; exigir do pesquisador habilidade para interagir com o pesquisado.

No delineamento da pesquisa fenomenológica se objetiva também reconhecer as percepções das pessoas e o significado de um fenômeno ou experiência vivida por uma pessoa (individual) ou por um grupo (grupal) ou uma comunidade (coletiva) em relação a um fenômeno.

Para Marconi e Lakatos (2017), o objetivo da pesquisa fenomenológica é descrever e entender os fenômenos com base no ponto de vista de cada participante e da perspectiva construída coletivamente.

Segundo Gil (2019a) o objetivo da pesquisa fenomenológica é chegar à contemplação das essências, isto é, ao conteúdo inteligível e ideal dos fenômenos de forma imediata.

Fases da Pesquisa Fenomenológica

A pesquisa fenomenológica compreende dois momentos: a redução fenomenológica e a redução eidética.

a) Redução Fenomenológica: é a restrição do conhecimento ao fenômeno da experiência de consciência e, nesse caso, o mundo real é posto entre parênteses, pois que tudo o que é objeto de nossa experiência sensorial é mudado em experiência de consciência. A realidade passa a ser uma experiência de consciência. (MARCONI; LAKATOS, 2017). A epoché é o primeiro passo na redução fenomenológica, constitui o processo de análise de dados em que o pesquisador se afasta o mais humanamente possível de todas as experiências preconcebidas, para melhor compreender as experiências dos participantes do estudo. (RICHARDSON, 2017).

Segundo Gil (2019a), Epoché, em grego, significa colocar entre parêntese, ou seja, consiste em restringir o conhecimento ao fenômeno da experiência de consciência, o que implica desconsiderar o mundo real, colocá-lo “entre parênteses”. Trata-se, pois, do processo pelo qual tudo que é informado pelos sentidos é mudado em uma experiência de consciência, em um fenômeno que consiste em se estar consciente de algo. Assim, coisas, imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos, eventos, memórias e sentimentos constituem experiências de consciência. Fazer essa redução, entretanto, não significa duvidar da existência do mundo, mas fixar-se no modo como o conhecimento do mundo acontece, na visão do mundo que o indivíduo tem.

b) Redução Eidética: é a redução do objeto da percepção à ideia, o que leva à abstração dos acidentes e intuição das essências. (MARCONI; LAKATOS, 2017). A redução eidética (do grego eidos= ideia ou essência), consiste na a abstração da existência, de tudo o que é acidental, para permitir a intuição das essências. Consiste na sua análise para encontrar o seu verdadeiro significado. Isso porque tudo o que as pessoas têm em sua mente decorre de informações proporcionadas pelos sentidos. Por essa influência dos sentidos existem várias imagens possíveis de um mesmo objeto, embora todas significando a mesma coisa, constituindo a sua essência.

A essência é algo idêntico que continuamente se mantem durante o processo de variação e que Husserl chamou de invariante. Por exemplo, uma mesa, pode ser alta, baixa, quadrada, redonda, pode ser vista de cima ou de baixo. Mas haverá sempre componentes básicos – invariantes que estão em todas as mesas – que lhe garantem o significado de mesa. (GIL, 2019a).

Princípios da Pesquisa Fenomenológica

Considerando que a pesquisa fenomenológica é fundamentada na fenomenologia, faz-se necessário seguir os princípios da fenomenologia:

Características da Fenomenologia

Etapas da Pesquisa Fenomenológica

Existem várias características que em geral são incluídas nas etapas do desenvolvimento da pesquisa fenomenológica:

Tipos de Pesquisas Fenomenológicas

Duas abordagens da fenomenologia são destacadas: a fenomenologia hermenêutica e a fenomenologia empírica, transcendental ou psicológica.

a) Fenomenologia Hermenêutica: é uma pesquisa orientada para a experiência vivida (fenomenologia) interpretando os “textos” da vida. Neste caso, embora a fenomenologia não seja abordada como um conjunto de regras ou métodos, ela é discutida como um interjogo dinâmico entre seis atividades de pesquisa. No processo, os pesquisadores refletem sobre temas essenciais, o que constitui a natureza dessa experiência vivida. Redigem uma descrição do fenômeno, mantendo uma forte relação com o tópico de investigação e equilibrando as partes da escrita em relação ao todo.

b) Fenomenologia Transcendental ou Psicológica: é menos focada na interpretação do pesquisador e mais em uma descrição das experiências dos participantes. Além disso, foca-se na epoché (ou bracketing). Consequentemente, é transcendental o que significa “em tudo que é percebido como novo, como se fosse pela primeira vez”. Além da suspensão, a fenomenologia transcendental empírica se baseia nos Duquesne Studies in Phenomenological Psychology.

Procedimentos da Pesquisa Fenomenológica Psicológica

A conduta da fenomenologia psicológica foi abordada em inúmeras publicações. Os principais passos dos procedimentos são:

Exemplos de Pesquisa Fenomenológica

Como exemplo da pesquisa fenomenológica se tem uma investigação com pessoas sequestradas cujo objetivo seria entender como definem, descrevem e entendem essa terrível experiência, com seus próprios termos. (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013).

A pesquisa fenomenológica foca na descrição do que todos os participantes têm em comum quando vivenciam um fenômeno, por exemplo, o pesar é universal ou como a raiva, o profissionalismo, o que significa estar abaixo do peso ou o que significa ser um lutador, andar de bicicleta ou o início da paternidade. (CRESWELL, 2014).

Um objeto pode ser, por exemplo, uma coisa concreta, mas também uma sensação, uma recordação, não importando se este constitui uma realidade ou uma aparência. (GIL, 2019a).

Aplica-se a problemas que se referem ao dia a dia das pessoas. Por exemplo, para estudar o convívio com a frustração, com a depressão, com a separação e com a sexualidade. (GIL, 2019b).


Referências Bibliográficas:

CRESWELL, John W. Investigação qualitativa e projeto de pesquisa: escolhendo entre abordagens. Tradução: Sandra Mallmann. 3. ed. Porto Alegre: Penso, 2014.

DIEZ, Carmen Lúcia Fornari; HORN, Geraldo Baldino. Orientações para Elaboração de Projetos e Monografias. 3. ed.Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2019a.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2019b.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 4. ed. São Paulo: Atlas 2017.

SAMPIERI, Roberto Hernandéz.; COLLADO, Carlos Fernandéz; LUCIO, María del Pilar Baptista. Metodologia da Pesquisa. Tradução: Daisy Vaz de Moraes. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.

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